Como disse na publicação desabafo, saímos cedo de Porto Velho com destino a Rio Branco. Paisagens bonitas em alguns trechos. Em um posto de abastecimento, uma frentista perguntou se a gente ia pegar a balsa. Que balsa???? No GPS e nos mapas, na BR364 não aparece nenhuma balsa, aparece uma ponte!.!.!.! Pensamos que a frentista estava enganada, mas ela não estava.
Durante a travessia, conversamos com algumas pessoas e soubemos que quem controla a balsa é uma empresa privada, o que nos leva a crer que alguém está ganhando muito com isso. Ainda na balsa, uma garota veio falar com a gente, ela perguntou se era nossa primeira vez naquela travessia, respondemos que sim. Ela então nos mostrou que estávamos muito perto da Bolívia e nos mostrou a bandeira boliviana.
A pontinha de terra entre eu e Ricardo é território boliviano.
Voltamos para a estrada e mal sabíamos que iríamos criar uma bonita amizade com aquela garota que gentilmente veio falar com a gente. Fernanda, filha de Mágda e Manuel, passou no concurso da Universidade Federal de Rio Branco, ela estava de mudança e indo tomar posse. Ao chegar na região de Extrema, ainda no posto da BR, reencontramos Fernanda e seus pais, e foi assim que ficamos sabendo a história dela.
Gente, nesse dia tinha criança de colo, idosos, grávidas... Eu estava indignada porque toda aquela confusão estava atrasando minha viagem, mas em tempo percebi que tinham outras pessoas em situação mais desesperadora que a minha. Fernanda se ofereceu para despachar nossa roupa suja quando ela chegasse em Rio Branco, aceitamos.
À noite, quando voltamos para o posto BR e os caminhoneiros também fecharam a BR364, uma mãe pediu para os caminhoneiros deixarem ela passar com o filhinho dela, eles estavam há duas semanas no hospital. Quem me conhece sabe que não consegui segurar as lágrimas, mas eu não queria deixar Ricardo preocupado comigo, então tratei de respirar fundo e enfrentar a situação de frente. Os caminhoneiros deram um jeitinho para eles passarem.
Fiquei preocupada, como iria dar notícias em casa?? A região não pegava celular, mas o dono do posto disponibilizou o telefone para os que estavam ali. Tentei falar em casa e na casa dos meus pais, não consegui. Consegui falar com Val, meu cunhado, e disse a ele que havíamos parado em uma pequena cidade antes de Rio Branco porque a estrada estava em obras. Não queria deixar ninguém preocupado.
No posto conversamos com muita gente, estávamos todos na mesma situação, indignados. Conhecemos e conversamos bastante com Carlos, um caminhoneiro muito gente boa. Dessa vez ele estava viajando sozinho, mas ele viaja muito com a esposa. Graças a generosidade dele, passamos um noite menos pior do que poderia ser.
Ouvindo e contando histórias.
Enquanto Ricardo descansava, um grupo se reuniu para conversar. Conheci uma família que estava indo para Brasiléia-AC buscar a avó para morar com elas. Com toda essa confusão, elas desistiram da viagem, vão deixar para outro dia. Conheci também um casal, eles chegaram na madrugada, estavam detidos na manifestação de Vista Alegre, que finalmente havia terminado. Eles estão morando na Bahia, numa cidade perto de Cachoeira, ele disse que é uma cidade universitária, não conheço. Conheci também um casal que me alertou a nem pensar em voltar para casa por território boliviano, eles disseram que nas estradas bolivianas os bandidos tomam seu carro e sua moto na mão grande mesmo.
Um grupo de caminhoneiros passou a noite jogando cacheta, na verdade eles estavam mesmo era fazendo a vigilância de todos.
E assim a noite passou.
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