sexta-feira, 28 de junho de 2013

CUSCO, ENFIM!!!

24/06/2013

Choveu a noite toda em Puerto Maldonado e saímos de lá com o tempo meia boca. Sabíamos que iria  fazer frio na estrada, mas confesso que eu não imaginava quanto.

Quando a recepção do hotel ligou para nos acordar, já estávamos fechando as malas, eles atrasaram meia hora. Tomamos um café diferente do nosso café brasileiro... nem eu que sou viciada em azeitonas tive coragem de come-las de manhã cedo.

Vocês lembram do S.O.A.T. de ontem?? Então, o escritório não abria às sete, era às oito... O guia que faz os passeios de barco do hotel já morou no Acre e fala português bem. Se não fosse ele, não sei o que seria da gente, hoje é feriado no Peru e muitos escritórios estavam fechados. Finalmente, eles encontraram um escritório aberto e Ricardo fez o bendito seguro.

Quando saímos já era mais de 08:30h, muito tarde, nós sabíamos, mas não tivemos escolha, ontem foi domingo e os escritórios também estavam fechados. Afff!!!!!

Saindo de Puerto Maldonado

Abastecemos logo na saída e seguimos. Os postos aqui no Peru não aceitam cartão de crédito, tudo tem que ser em soles. Com certeza, vamos precisar cambiar outra vez.  

Andamos alguns quilômetros em estradas normais, passamos por muitos vilarejos, muita miséria, muita bagunça, muito triste. Depois de um tempo, paramos para abastecer numa pequena cidade e o frentista nos perguntou se estávamos indo para Cusco, dissemos que sim. Ele então nos avisou que iríamos começar a subir... detalhe, começou a chover. 

Tenho mais uma confissão a fazer, deu medo. Não sei por que, mas a ideia de cruzar os Andes só me assustou na hora de começar a cruzá-lo. Não sei se foi a chuva, não sei dizer exatamente o que foi, mas o coração bateu mais forte. Vestimos as capas...

Bem, começamos a subir a Serra de Santa Rosa e eu comecei a pedir a Santa Bárbara (conselho de mamy) para levar aquela chuva para bem longe. Era um olho na estrada, um olho no céu. Tirei as minhas luvas de frio, porque elas molham, e coloquei as plásticas, que não molham, mas também não esquentam. Tudo bem, não estava frio ainda. 

Esse pedaço de subida tem rios lindos, mas também muitos paredões, muita área com risco de deslizamento. Com a chuva, vimos muitas pedras na estrada, vimos também uma árvore caída na estrada. Tudo isso só me deixou mais preocupada, mas seguimos em frente. 

As placas não animavam nem um pouco.

O tempo era aquele, chovia e parava, chovia e parava. Eu olhava para cima, via aquelas montanhas enormes e quando eu menos esperava aparecia outra maior ainda. Continuamos a subir e em pouco tempo começou a esfriar. Para nossa sorte, o tempo começou a segurar, a chuva parou. O problema agora era o frio, as luvas de Ricardo estavam molhadas.  Continuamos a subir e vimos paisagens lindas, rios caudalosos, muitas cachoeiras, lugares incríveis. 

Atravessar os Andes não é brincadeira, a velocidade máxima que se atinge é 60km/h, e em poucos pontos. A maior parte do tempo a moto não passa de 40km/h, algumas vezes temos que andar a 10km/h, por segurança.   Prudência é o nome dessa viagem, principalmente nesse trecho. 

Quando achamos que estávamos bem alto, veio a segunda parte da subida. Aí, meus amigos, o bicho pega, é muito alto. Fomos a 4.800 metros de altitude, o frio lá em cima é de enlouquecer um, mas a paisagem é uma coisa deslumbrante. Quando saímos de uma determinada curva, vimos aquela montanha enorme coberta de neve, bem na nossa frente, uma cena inesquecível... 

O mais incrível é que tem pessoas morando nessa altitude, nesse clima. É tudo muito diferente do que eu já tinha visto... A uma certa altura, pedi a Ricardo para parar, eu precisava tirar as luvas plásticas e colocar as de frio. Paramos e eu troquei de luvas, Ricardo aproveitou e tirou as dele... coitado, a mão dele estava toda enrugada, a luva dele estava molhada com todo aquele frio. Ele colocou as minhas luvas plásticas, ligou o aquecedor de punhos da moto e as coisas melhoraram. Quando paramos na estrada, a sensação era de que iríamos congelar, minhas luvas não entravam na minha mão, acho que minhas mãos incharam. 

Passado o primeiro pior pedaço, eu tive uma crise de riso, não conseguia parar de rir por nada.... Não sei se foi falta ou excesso de oxigênio, mas eu não conseguia parar de rir. Ricardo queria que eu parasse de rir, ele ficou preocupado de eu ficar sem ar, mas eu simplesmente não conseguia. Foi ótimo, me senti bem mais leve. Achamos que já tínhamos subido tudo que tínhamos para subir, mas que nada, daqui a pouco olha a gente subindo outra vez. Mais uma vez fomos a quatro mil e tantos metros de altitude, só que dessa vez estávamos com as mãos aquecidas. 

Quando começamos a descer, passamos por alguns pedaços da estrada que estão em manutenção. Já bem perto de Cusco, fomos parados por um policial que só nos perguntou de onde éramos e para onde íamos. Dissemos, ele nos orientou e seguimos viagem.  

Todo mundo havia dito para não chegarmos à noite em Cusco, nós chegamos no início da noite. Até chegarmos ao hotel, que fica no centro histórico, pegamos todo o trânsito louco desse cidade. O que é isso??? O povo aqui é louco!! Ninguém dá passagem a ninguém, eles buzinam feito loucos, cortam por todos os lados, loucura total. 

Demoramos um pouco para achar o hotel. Estávamos cansados, com frio e estressados, mas uma boa alma nos orientou e depois de um tempinho encontramos o Taypikala Hotel. 

Fizemos o check-in no hotel, arrumamos tudo e íamos sair para jantar, mas optamos por jantar no hotel mesmo.   

Na recepção do hotel tem chá de coca à vontade, folha de coca para mascar e balões de oxigênio... Até agora não senti nada, só um pouco de cansaço ao fazer as coisas. Na recepção do hotel, encontramos um cara tomando oxigênio. Em pouco tempo descobrimos que ele é brasileiro, de São Paulo. Quando ele soube que éramos baianos e tínhamos vindo de moto, ele falou: "Pô cara, vou sair disso aqui, já estou até sem graça".  

Acho que Ricardo está sentindo um pouco a altitude, mas o querer ser forte (para não usar outro nome) não está deixando ele admitir isso. Falei para ele tomar um pouco de oxigênio, mas ele está resistindo. 

Vamos dormir, amanhã é outro dia. 

Lamento não ter tirado fotografias, com certeza elas ficariam lindas, mas a chuva e o frio não deixaram. Se na volta me for permitido, fotografo para vocês, se não, fica só em nossa lembrança. 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

PUERTO MALDONADO - PERU

23/06/2013

Pois é, com dois dias de atraso, entramos no Peru. Saímos de Rio Branco às 07:00h, o GPS estava descarregado, enquanto carregava, fomos perguntando como seguir na direção do Peru. A sinalização para sair de Rio Branco para o Peru é meio fraca.

A estrada começa aqui no Brasil

Seguimos viagem passando por várias pequenas cidades. Tínhamos a informação que a fronteira fechava para almoço, por conta disso, adiantamos a viagem o máximo possível. Até agora estou querendo saber quem foi que disse que essa estrada era um tapete. Nada disso, até chegar em Assis Brasil, última cidade brasileira, a estrada tem vários trechos estragados, buracos, muito longe de ser um tapete. 

Chegamos à imigração brasileira e não tivemos qualquer problema para sair do país. Perguntei ao policial federal se a fronteira fechava e ele disse que a do Brasil, não. 

Na fronteira, no lado do Brasil

Andamos um pouco e chegamos ao lado peruano. 
Na fronteira

Ao estacionar a moto  para fazer os trâmites legais, encontramos um grupo de brasileiros, de Minas Gerais. Passamos primeiro na imigração para preenchermos a documentação necessária. Uma mulher com cara de poucos amigos nos entregou a papelada para preenchermos e mal olhou a nossa carteira internacional de vacinação. Feito isso, passamos na aduana para legalizar a entrada da moto. Aqui no Peru existe um seguro obrigatório para os veículos, o S.O.A.T, tentamos fazer esse seguro no Brasil, não conseguimos. Nos orientaram a fazer o seguro quando chegássemos aqui. No meu entender, seria mais lógico esse seguro ser feito na fronteira, não na primeira cidade que parássemos. Essa é a deixa para muitos veículos estrangeiros transitarem no país sem o seguro. Achei isso uma incoerência...

Fizemos o câmbio dos soles em uma das lojinhas (se é que podemos chamar assim) em frente à aduana. Aqui, um real equivale a um soles e vinte e três centavos. 

Seguimos viagem. Muitas vilas, muita pobreza, muita criança, muitos animais soltos na pista. A estrada aqui também não é das melhores, mas a Odebrecht está recuperando. 

Vimos isso a toda hora

Uma curiosidade: aqui, motociclista usa capacete tipo coquinho, que eles chamam casco, e carona, ou melhor, caronas, não precisam usar. Falei caronas porque famílias inteiras andam juntos na moto. As vezes passava dois adultos e duas crianças na mesma moto. Até recém nascidos andam de moto no colo das mães... Coisa de doido!!!!

Nessa só tinham três...

Chegamos a Puerto Maldonado e um guia local nos levou ao hotel, sem problemas. Aqui também não perdemos a reserva e não nos cobraram o noshow.  Estamos com sorte. 

Ponte sobre o Rio Maldonado.

Antes de sairmos para jantar, falamos com a família via skype, só faltou Bê, que estava passeando com a dinda. Ricardo pegou informações sobre o S.O.A.T e disseram que amanhã às 07:00h ele pode fazer o seguro e seguir viagem. 

Descemos para conhecer o hotel Wasai Eco Lodge, que fica às margens do rio Maldonado. Visual muito bonito.



Fomos jantar no restaurante indicado pelo hotel, mas antes eu precisava andar de mototaxi. Tem milhares deles por aqui. 

Passeando de mototaxi

Jantamos no Burgo's, um restaurante muito lindo, com vista para a selva peruana, e uma comida muito gostosa. 

No restaurante, o garçons nos ofereceu um molho levemente apimentado. Perguntei do que era feito e ele nos mostrou a cocona.

Cocona

Voltamos para o hotel, se Deus quiser, amanhã chegamos a Cusco. 



RIO BRANCO - COM DOIS DIAS DE ATRASO

22/06/2013

Como já contei, o dia amanheceu tenso com a chegada do GOE... 

Quando tudo parecia resolvido, fomos pedir mais informações sobre as estradas e cidades do Acre. Nossos novos amigos foram unânimes: ao sair dali, deveríamos parar em Rio Branco e descansar. Eles estavam certos. Conversamos com João Silvério, dono da empresa de refrigerantes Kina. Além de nos dar todas as informações sobre as estradas do Acre, ele me ofereceu uma Kina Uva, um refrigerante muito gostoso, lembra a Grapete. 

Nos despedimos de todos e seguimos viagem. Nunca desejei tanto ver as placas abaixo.


Chegamos a Rio Branco e fomos procurar o hotel. Paramos num posto para abastecer já dentro da cidade e, por coincidência, o posto era do pai de um dos amigos que fizemos na estrada. Apesar do filho dele já ter dado notícias, ele quis saber mais sobre o que havia acontecido. 

Achei Rio Branco uma graça. Avenidas largas, cidade limpa, muitos jardins.  Acabei sendo positivamente surpreendida. Fernanda tinha dito que Rio Branco é a melhor capital do Norte para se morar, ela deve estar certa. Gostei daqui. 

Chegamos no Viver Apart Hotel e eles, gentilmente, transferiram para hoje a nossa diária de ontem. Um bom banho quente renova a alma. Fomos ao Shopping Via Verde, precisávamos sacar dinheiro e jantar. Em um dos restaurantes que paramos, nos informaram que eles estavam sem alguns ingredientes... já era resultado da paralisação.  Jantamos no Afa Gourmet.  

Voltamos para o Apart, estamos tão cansados que não nos demos conta. 

NOITE NA ESTRADA

21/06/2013

Como disse na publicação desabafo, saímos cedo de Porto Velho com destino a Rio Branco.  Paisagens bonitas em alguns trechos. Em um posto de abastecimento, uma frentista perguntou se a gente ia pegar a balsa. Que balsa???? No GPS e nos mapas, na BR364 não aparece nenhuma balsa, aparece uma ponte!.!.!.! Pensamos que a frentista estava enganada, mas ela não estava.  

A travessia na balsa. 

Durante a travessia, conversamos com algumas pessoas e soubemos que quem controla a balsa é uma empresa privada, o que nos leva a crer que alguém está ganhando muito com isso. Ainda na balsa, uma garota veio falar com a gente, ela perguntou se era nossa primeira vez naquela travessia, respondemos  que sim. Ela então nos mostrou que estávamos muito perto da Bolívia e nos mostrou a bandeira boliviana.


A pontinha de terra entre eu e Ricardo é território boliviano. 

Voltamos para a estrada e mal sabíamos que iríamos criar uma bonita amizade com aquela garota  que gentilmente veio falar com a gente. Fernanda, filha de Mágda e Manuel, passou no concurso da Universidade Federal de Rio Branco, ela estava de mudança e indo tomar posse. Ao chegar na região de Extrema, ainda no posto da BR, reencontramos Fernanda e seus pais, e foi assim que ficamos sabendo a história dela.  

Tentando manter a esperança.

Gente, nesse dia tinha criança de colo, idosos, grávidas... Eu estava indignada porque toda aquela confusão estava atrasando minha viagem, mas em tempo percebi que tinham outras pessoas em situação mais desesperadora que a minha. Fernanda se ofereceu para despachar nossa roupa suja quando ela chegasse em Rio Branco, aceitamos. 

À noite, quando voltamos para o posto BR e os caminhoneiros também fecharam a BR364, uma mãe pediu para os caminhoneiros deixarem ela passar com o filhinho dela, eles estavam há duas semanas no hospital. Quem me conhece sabe que não consegui segurar as lágrimas, mas eu não queria deixar Ricardo preocupado comigo, então tratei de respirar fundo e enfrentar a situação de frente. Os caminhoneiros deram um jeitinho para eles passarem.

Fiquei preocupada, como iria dar notícias em casa?? A região não pegava celular, mas o dono do posto disponibilizou o telefone para os que estavam ali. Tentei falar em casa e na casa dos meus pais, não consegui. Consegui falar com Val, meu cunhado, e disse a ele que havíamos parado em uma pequena cidade antes de Rio Branco porque a estrada estava em obras. Não queria deixar ninguém preocupado. 

No posto conversamos com muita gente, estávamos todos na mesma situação, indignados. Conhecemos e conversamos  bastante com Carlos, um caminhoneiro muito gente boa. Dessa vez ele estava viajando sozinho, mas ele viaja muito com a esposa. Graças a generosidade dele, passamos um noite menos pior do que poderia ser. 

Ouvindo e contando histórias.

Enquanto Ricardo descansava, um grupo se reuniu para conversar. Conheci uma família que estava indo para Brasiléia-AC buscar a avó para morar com elas. Com toda essa confusão, elas desistiram da viagem, vão deixar para outro dia. Conheci também um casal, eles chegaram na madrugada, estavam detidos na manifestação de Vista Alegre, que finalmente havia terminado. Eles estão morando na Bahia, numa cidade perto de Cachoeira, ele disse que é uma cidade universitária, não conheço. Conheci também um casal que me alertou a nem pensar em voltar para casa por território boliviano, eles disseram que nas estradas bolivianas os bandidos tomam seu carro e sua moto na mão grande mesmo.

Um grupo de caminhoneiros passou a noite jogando cacheta, na verdade eles estavam mesmo era fazendo a vigilância de todos. 

E assim a noite passou. 







PORTO VELHO - CAPITAL COM JEITINHO DE INTERIOR

20/06/2013

Não dormi direito esta noite, estava preocupada com a chuva e com a parte da estrada que iríamos enfrentar. Levantamos cedo e quando Ricardo foi fazer a vistoria da moto e lubrificar a corrente, ele acabou conhecendo Nunzio, dono do hotel Mirage, que curiosamente é motociclista e dono da academia do hotel. Pronto, Ricardo foi me chamar no quarto e fomos na academia de Nunzio, ele e a esposa fizeram  a mesma viagem nossa, há uns dois anos. Conversamos bastante e Nunzio nos deu dicas de onde parar, sobre as estradas e sobre a chegada em Cusco. Depois que conversamos, fiquei um pouco mais tranquila em relação à estrada. 

Saímos de Vilhena com sol, mas estávamos tão assustados com a tempestade do dia anterior que saímos com as capas de chuva. 

Abastecendo em Vilhena-RO. 

Acho que não existe a possibilidade de passarmos por um trecho mais quente e mais estragado que esse. Em alguns pontos entre Cacoal e Presidente Médici, o asfalto não existe mais. São muitos caminhões, a viagem não rende.

Acreditem,  essa é uma parte boa do trecho que mencionei. 

Depois de muito calor, muitos buracos, muitos caminhões, chegamos a Porto Velho e paramos num hotel logo na entrada da cidade. 

Olha como as malas chegaram!!!

Fizemos a rotina de toda chegada e pedimos um taxi para darmos uma volta na cidade e irmos a um restaurante... Ah! se arrependimento matasse... O que Vilhena tem de gracinha, Porto Velho tem de feia, suja e confusa. O trânsito é uma loucura, muitas ruas ainda sem pavimentação e tem um viaduto no meio da cidade que as obras foram iniciadas e nunca foram finalizadas. 

A taxista, Chiquita, nos levou para conhecer o porto do Cai n'Água, local de onde saem as gaiolas (embarcações típicas da região) para Manaus. São muitas embarcações de carga, passageiros e carros. Alguma coisa me lembrou a rampa do Mercado Modelo de Salvador-BA.


Desistimos de conhecer o resto da cidade e tentamos encontrar um restaurante que estivesse aberto, muitos estavam fechado devido às manifestações na cidade. Jantamos no restaurante Pereas. Não sei se foi a fome, mas a comida até que estava boa. 

Ao voltarmos para o hotel, o taxi teve que dar uma volta enorme para não passar pelas manifestações, que ainda continuam.

Amanhã nós seguimos para Rio Branco. 

VILHENA - COMO NO PRIMEIRO ROTEIRO

19/06/2013

Fiquei tão assustada com a tempestade que pegamos que acabei só escrevendo sobre ela, mas espero que não tenhamos mais surpresas e eu possa publicar diariamente, como programado.

Saímos cedo da Chapada, a Villa Guimarães  serviu o café da manhã um pouco mais cedo e Paulo ajudou Ricardo a arrumar a moto.
Moto pronta para seguir viagem. 

Após sair da Chapada tivemos que encarar Cuiabá... um horror!!! A cidade está toda reformando e não existem placas de sinalização. Apesar do GPS agora estar funcionando perfeitamente, ficamos dependendo da boa vontade das pessoas que nos orientaram para sair da cidade. 

Na altura de Cáceres-MT, cruzamos o rio Paraguai e passamos pela entrada da estrada Transpantaneira. Vimos muitos animais mortos naquela região. Acreditem, vimos um jacaré morto na estrada... Fiquei muito triste em constatar o quanto a construção de estradas (necessarias, eu sei) devastam o meio ambiente. Mais adiante, para nossa alegria, um tucano passou voando baixinho por nós. 

Tentando passar o tempo

O calor estava grande, mas ao chegarmos num posto para abastecer... Olhei para o céu e vi que alguma coisa não estava muito legal...
E essa ainda era só uma chuva.

Paramos outra vez para abastecer em Comodoro, última cidade do Mato Grosso. Fizemos um lanche, estava passando o jogo do Brasil, e como a cidade tinha conexão para o celular, falei com os meninos. 

Seguimos viagem e aí vocês já sabem o que aconteceu.

A ironia disso tudo é que no primeiro roteiro que tracei, pousaríamos em Vilhena...



domingo, 23 de junho de 2013

BR 364 - QUE PAÍS É ESTE?

Sei que muitos devem estar pensando que esqueci do blog, que não vou mais publicar, nem de longe foi isso que aconteceu. 

Essa é uma publicação sem data, porque, na verdade, é um desabafo, uma indignação...

Saímos de Porto Velho com destino a Rio Branco, uma viagem que imaginávamos ser tranquila. Como era um trecho curto, resolvemos sair um pouco mais tarde, acho que foi a nossa sorte. 

No caminho eu vinha pensando que iria falar no blog sobre o estado das estradas de Rondônia, como elas estão estragadas, etc.. Mas ao chegarmos em Extrema-RO, faltando 170 km para chegarmos em Rio Branco, nos deparamos com uma situação surreal,  a BR364 estava fechada com toras de madeira e pneus,  os moradores de Extrema estavam fazendo uma manifestação.

Procurei saber o que estava acontecendo e fui informada que a região queria emancipar-se, eles são distrito de Porto Velho. Conversei com um dos líderes do movimento e argumentei que motocicleta não entrava em fila, que em algumas estradas não pagava pedágio, etc.. A princípio ele achou que meus argumentos estavam certo e mandou eu ir conversar com Bispo, um dos líderes mais fortes, e levar essa proposta a ele. Fui, ele me ouviu, um outro líder também, mas aí apareceu um FDP (desculpem a sigla) gritando:  "aqui ninguém vai passar".

Voltei para o outro lado da estrada, o que fazer??? Esperar, era o que restava. Isso era por volta do meio dia e às 18 horas iria ter uma reunião entre eles para decidir se abriam ou não a estrada. Quando eu estava gastando meu latim com os líderes, Dr. Xavier, veterinário da região, que inicialmente fazia parte da cúpula, passou por mim e disse que estava saindo do movimento, porque ele não concordava em manter a pista fechada por tanto tempo. Segundo ele, a ideia inicial era que a pista ficasse fechada até o meio dia. Comecei a ficar mais preocupada.

Ficamos por lá esperando alguma alteração da situação. Alguns reféns mais otimistas, como eu, começaram a conversar e esperar o tempo passar. Algumas pessoas voltaram para Vista Alegre, uma pequena cidade antes de Extrema, outras voltaram para o Posto BR322, que fica na estrada. 
Ricardo, Fernanda e eu.

Um detalhe muito importante, naquela região não pega nenhuma operadora de celular, ou seja, ninguém conseguia se comunicar. Conversando com Fernanda (que está na foto com a gente), ela colocou que a população deveria fechar  o Posto Fiscal, que ficava uns 2km dali. Assim, o estado deixaria de arrecadar e ninguém precisava ficar parado na estrada. Eu e Fernanda voltamos para a manifestação e colocamos isso para eles. Um participante disse que a ideia inicial era essa, mas que, quando eles fecharam a pista,  tinha pouca gente para fazer isso. Um marginal, sim, marginal, que estava lá, mais bêbado que um gambá, com uma pick up cheia de pedras e porretes, falou: "nós temo é que bota fogo no posto fiscal". Eu e Fernanda entendemos que àquela altura do campeonato, não tinha mais a menor chance de diálogo. A manifestação deles era movida a churrasco, cerveja e música... Os fazendeiros da região estavam apoiando a manifestação... Ficou muito claro os interesses políticos. 
 


Finalmente, 18 horas chegou, mas eles disseram que não ia ter mais reunião nenhuma, eles iriam manter a BR364,  uma estrada federal, fechada até o governo vir negociar com eles. Para quem acha que é brincadeira, da última vez que eles fizeram isso, a estrada ficou fechada por quatro dias... Imaginem meu desespero.

Quando veio a notícia que a estrada ia continuar fechada,  decidimos voltar para Vista Alegre e tentar ficar em um hotel. Sim, mas ninguém podia imaginar que Vista Alegre resolveu protestar e também fechou a BR364, ninguém ia ou vinha. Eu e Ricardo decidimos ir para o Posto BR322, e ficar junto com os carros e caminhões que já estavam lá. 

Quando estávamos na entrada do Posto, outro bloqueio, dessa vez dos caminhoneiros. A população safada de Extrema tinha fechado a BR364, mas tinha deixado uma saída para eles, lá por dentro dos matos, e estavam para lá e para cá. Aí os caminhoneiros tomaram uma atitude e fecharam a saída deles, ninguém mais ia ou vinha. Todo mundo que estava voltando do ponto onde estava o protesto da cidade e encontrava a estrada fechada, saia do carro já a ponto de explodir. Mas vocês acreditam que quando a gente explicava a situação, as pessoas entendiam? Os caminhoneiros puxaram um caminhão um pouco para frente para as moto poderem passar para o posto. O acesso era meio difícil, mas conhecemos pessoas maravilhosas, extremamente solidárias.

Então,  a situação era dormir no posto e esperar o dia seguinte. Conhecemos muita gente, conversamos muito, presenciamos muita coisa, ouvimos muitas histórias. 
Eu, Carlos, Ricardo e um dos líder do movimento dos caminhoneiros. 

Carlos também é caminhoneiro, ele nos ofereceu o baú do caminhão dele para a gente dormir, mas preferimos ficar no quiosque, onde fica a lanchonete do posto. Ele então nos ofereceu uma rede, mantas e repelente, aceitamos tudo.
Olha a situação!!!!

Quem nos conhece sabe que Ricardo dormiu e eu passei a noite em claro. Muita gente ficou acordada conversando e esperando o dia amanhecer. No meio da madrugada chegou a notícia que os manifestantes vândalos tinham queimado o Posto Fiscal e tinham colocado fogo também em um carro da Sefaz.

Durante a madrugada, chegaram  alguns carros que estavam presos em Vista Alegre, que tinha encerrado o protesto, e também desceram três carros do GOE (grupo de operações especiais) para o lado do manifesto. Quando amanheceu o dia, chegou o reforço.

O GOE pediu que os caminhoneiros tirassem os caminhões da pista e prometeram que iriam abrir a BR. Todo mundo renovou os ânimos, quem estava dormindo, acordou, alguns caminhoneiros saíram do posto para pegar um bom lugar na fila, uma agitação só. Passado um tempo, Jornal, apelido de um cara que estava de moto do mesmo lado que a gente, veio dizer que o GOE estava no Posto Fiscal, mas que não ia abrir a estrada, ia esperar uma comitiva do governador. Sábado?!?!??? O desânimo veio maior ainda. 

Quando estávamos na fila, ainda acreditando que o GOE iria cumprir o prometido, fomos ver como tinha ficado o Posto Fiscal.

Voltamos para o posto, a essa altura a pista para voltar estava livre... Eu e Ricardo precisávamos conversar sobre o que fazer... Resolvemos esperar e ver o que dava para salvar da viagem.

Lá pelo meio da manhã, chegou uma comitiva do governador. Será que iria abrir??? Passaram algumas horas e veio a boa notícia que eles tinham chegado a um acordo e estavam assinando um tal documento. 

Mais uma vez nos despedimos dos amigos que fizemos e voltamos para a pista. Para resumir a história, umas 14:30h de sábado, 34 horas depois de iniciado o protesto deles, a situação foi resolvida e eles abriram a BR outra vez.

Sei que não consegui passar para vocês um terço do que foi tudo aquilo, tinha crianças, idosos, gestantes, pessoas sem dinheiro na mão, caminhoneiros perdendo a carga, mais de sete caminhões tanque juntos num posto de combustível, todos presos numa estrada federal, sem direito de ir ou vir. Precisou passar 34 horas para que alguma coisa acontecesse!!!!! QUE PAÍS É ESTE????!!! 

Tem muita história ainda para contar, pessoas que conheci, o que vivi, mas amanhã eu prometo publicar seguindo a sequência de onde parei, estou muito cansada, acho que ainda não me recuperei do susto.

POVO x POVO - guerra civil???

quarta-feira, 19 de junho de 2013

CACOAL - NÃO CONSEGUIMOS

19/06/2013

Não estava escrito que estaríamos hoje em Cacoal-RO, tivemos que pousar em Vilhena-RO, uns 200km antes.  

A chuva veio nos ameaçando o tempo todo, e vocês lembram que estávamos sem as capas de chuva?? Quando chegamos em Comodoro, uma das últimas cidade do Mato Grosso, Ricardo encontrou uma loja de acessórios para motos, perto de onde estávamos abastecendo, e comprou uma capa para mim, não tinha o número dele.

Gente, vocês não têm noção do que é uma tempestade tropical... O céu desabou em cima da gente, não dava para enxergar nada, uma verdadeira loucura. Os pingos d'água eram grossos e fazia uma barulheira enorme nos capacetes, isso sem falar dos raios e trovões. Não podíamos parar no acostamento (a visibilidade era péssima), a solução foi deixar um caminhão andar a nossa frente, a uma distância segura, e ir andando devagar. Ricardo pilotando e eu junto com ele, quanto mais olhos na estrada, melhor. A nossa sorte foi que hoje estava tudo funcionando, GPS, comunicadores... só a chuva atrapalhou. 

Assim, chegamos a Vilhena-RO, abastecemos e tentamos seguir viagem, a tempestade tinha virado só uma chuva. Não andamos nem 15km e a chuva começou a ficar forte outra vez... não era para a gente ir. Fizemos a volta e entramos em Vilhena, vamos dormir aqui. 

Estou um pouco frustada, mas cada dia mais entendo que nem uma folha cai se não for da vontade de Deus. Se era para ficar aqui, ficamos. Estou recalculando toda a viagem. 

Ricardo saiu para jantar e trouxe uma pizza para mim, fiquei no hotel, tenho muitos cálculos para fazer. Ele comprou uma capa de chuva para ele e mais uma para mim....rs, quem conhece a peça sabe como ele é exagerado. Agora ele está dormindo e eu vou tentar dormir também. Amanhã nós voltamos para a estrada. 

Ah! tenho que confessar: dessa vez deu medo....

terça-feira, 18 de junho de 2013

CHAPADA DOS GUIMARÃES

18/06/2013

Ricardo, não sei se de propósito ou não, me acordou às 07:30h. Descemos para o café da manhã e eu pedi a Paulo, dono da pousada, para conseguir um guia para a gente fazer algum passeio. Ele nos indicou a trilha das cachoeiras, mas falou que ia pedir o guia para umas 09:30h. Quando perguntei que horas eram, ele respondeu: "ainda vai dar 9:00h". Resumindo, aqui nós estamos no fuso de -1h e Ricardo se aproveitou disso para me tirar da cama às 06:30h...

Nossos guias chegaram, Lena e Domingos. Lena só foi nos levar de carro até o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, quem nos conduziu na trilha foi Domingos, gente muito boa. Domingos era professor e se tornou guia aqui na Chapada. Com isso, além de um guia, contamos com um professor de biologia. 

Gente, falar sobre o Parque Nacional da Chapada é bobagem, prefiro publicar algumas fotos e vocês vão dizendo o que acham. Espero que as fotos consigam traduzir um pouco do que é esse lugar. 

Antes de conhecer qualquer cachoeira, quando fui fotografar uma paisagem muito linda, Ricardo percebeu que eu estava ao lado de um tatu (e eu não tinha nem visto). Domingos nos informou que era um tatu galinha, animal ameaçado de extinção. Ele não é lindo?


Ah! a vista era essa. 


Cachoeira das Andorinhas, que banho gostoso! Meus amigos chapadeiros, lembrei de vocês o tempo todo. 


Quem disse que aqui não tem praia? Essa é a Cachoeira da Prainha. 


Cachoeira do Degrau, uma boa hidromassagem. 


Fomos obrigados a concordar com Domingos, nosso guia, a Cachoeira do Pulo é a mais bonita. Ela é límpida e tem uma energia muito boa.  Até Ricardo se animou a entrar. 


Passamos por cima da Cachoeira do Sonrisal, o banho nela é meio complicado. E a próxima Cachoeira  é a Cachoeira Sete de Setembro.
 

Ao final do circuito das cachoeiras, fomos conhecer a Casa de Pedra, que não chega a ser uma caverna, mas é um antigo caminho do rio.


Saímos do circuito e fomos para outra parte do parque, onde fica a conhecida Cachoeira Véu de Noiva. Olhem que espetáculo!! É uma pena, mas essa cachoeira está fechada para o banho. 


Voltamos para a pousada e Paulo conseguiu carregar o nosso GPS e de  quebra, parece que consertou o adaptador que carrega na moto.  Amanhã a gente vê. 

Eu, Ricardo, Paulo e João Vitor.

Banho e saímos para um almoço tardio ou uma janta antecipada. Meu prato estava ótimo, mas o de Ricardo, ele não gostou muito. Pomodori Trattoria. 

Ricardo já dormiu faz tempo, mas eu estou aqui escrevendo para tentar contar um pouco do que foi o dia de hoje.

Estando em lugares como este, sou obrigada a concordar que "O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu".